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E se te disséssemos que no futuro podes trocar o bife por algas ou até insetos? Mentaliza o teu prato daqui a 20 anos: em vez do tradicional bife ou frango grelhado, poderás encontrar algas coloridas, um hambúrguer feito com proteína de insetos ou até um iogurte com fermentados que cuidam da tua saúde intestinal. Parece futurista? Pois já está a acontecer.
O mundo está a mudar rapidamente e, com a população mundial a caminho dos 9,7 mil milhões de pessoas até 2050, segundo a ONU, surge uma pergunta urgente: como vamos alimentar tanta gente sem esgotar os recursos do planeta? A FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) estima que a produção de alimentos precise de crescer mais de 50% até lá. Mas produzir mais nem sempre significa fazer melhor: os métodos tradicionais de agricultura e pecuária pressionam demasiado o ambiente, consumindo solos, água e energia, além de contribuírem para as emissões de gases com efeito de estufa.
É neste cenário que surgem as chamadas “proteínas do futuro”: alternativas sustentáveis, nutritivas e surpreendentemente saborosas. E não estamos a falar de algo distante - muitas destas opções já podem ser integradas na tua dieta, se estiveres aberto a experimentar.
A nossa relação com a comida mudou muito ao longo dos séculos. Começámos por caçar e recolher, depois inventámos a agricultura, mais tarde industrializámos a produção de alimentos e, hoje, enfrentamos o desafio de conciliar nutrição, sabor e sustentabilidade.
Esta evolução levou à busca por fontes de proteína que consomem menos recursos, exigem menos espaço e água e, ainda assim, nutrem o nosso corpo. E o mais interessante é que muitas destas alternativas já têm séculos de história em diferentes culturas, mas só agora começam a chegar com força ao nosso prato.
Se para ti parece estranho pensar em comer insetos, não estás sozinho! Mas olha para isto: mais de 2 mil milhões de pessoas em todo o mundo já os incluem na dieta, especialmente na Ásia, África e América Latina. Esta prática tem até um nome: entomofagia.
Em Portugal e na Europa, os insetos chegam principalmente em formas processadas: farinhas que se misturam em pães, bolos e massas, barras energéticas ou snacks crocantes e temperados. Muitas vezes nem percebes que estão lá, mas os benefícios já estão no teu prato.
Curiosidade: startups de foodtech já desenvolvem hambúrgueres e almôndegas à base de grilos ou larvas, e alguns chefs portugueses começaram a experimentar receitas gourmet com farinha de insetos. Quer bons exemplos do nosso país? Conhece Jimini’s e Portugal Bugs!
Se já comes sushi, então já tens contacto com algas. Mas o potencial delas vai muito além do nori enrolado no arroz…
Algas como spirulina, chlorella, wakame e kombu são verdadeiros tesouros nutricionais:
Curiosidade: algumas espécies podem produzir até 167 vezes mais biomassa que o milho numa mesma área, tornando-as super eficientes para alimentar mais pessoas com menor impacto ambiental.
Pão, queijo e cerveja já fazem parte da nossa vida - todos dependem da fermentação. Mas hoje, técnicas ancestrais de fermentação estão a ser reinventadas para o futuro: kombucha, kefir, tempeh, miso e kimchi são cada vez mais populares.
Os fermentados trazem múltiplos benefícios:
Dica prática: inclui uma pequena dose de kefir ou kombucha na tua rotina diária (é refrescante, saboroso e superamigo do intestino).
Para além de insetos, algas e fermentados, há outras inovações que já estão a chegar:
Carne de laboratório: carne real cultivada a partir de células animais, sem abate, com consumo de água e solo muito menor, além de reduzir gorduras saturadas (explora este assunto aqui).
Fazendas verticais: hortas urbanas com tecnologia de ponta, que usam até 90% menos água, produzem o ano inteiro e eliminam pesticidas.
Elas mostram que o futuro da alimentação pode ser mais sustentável, inovador e nutritivo.
Não precisamos de olhar só para fora. Por cá, já vemos tendências a ganhar força:
Mas atenção a este dado: em Portugal, foram ingeridos cerca de 118,5 kg de carne e miudezas por pessoa em 2022 - mais do quíntuplo da quantidade recomendada pela FAO. Isto mostra que ainda temos muito espaço para diversificar a dieta, reduzir a dependência de proteína animal e explorar alternativas mais sustentáveis.
Outro conceito que se encaixa perfeitamente nesta discussão é o da economia circular. Muitas das proteínas do futuro, como insetos, algas, fermentados e cogumelos, podem ser produzidas de forma a aproveitar subprodutos e resíduos, transformando aquilo que seria descartado em novos alimentos nutritivos:
Esta abordagem reduz desperdício e cria um ciclo sustentável que beneficia produtores, consumidores e o planeta.
Mini receita prática: mistura tempeh e tofu, salteados com wakame e legumes. Tempera com azeite, gengibre e molho de soja. Tens uma refeição rica em proteína, rápida e sustentável!
Pequenos passos diários ajudam a criar hábitos sustentáveis e a explorar novos sabores sem grandes mudanças radicais.
Experimentar estas proteínas não é só uma escolha pessoal, também é um gesto de responsabilidade. Eis o que mais podes fazer:
As proteínas do futuro não querem substituir tudo o que já conhecemos, mas acrescentar opções mais saudáveis e sustentáveis.
Talvez ainda não estejas pronto para um prato de insetos, mas algas, fermentados e tempeh podem ser a tua porta de entrada. Experimentar é, no fundo, um passo para um planeta mais saudável e uma alimentação mais consciente.
Quem sabe o próximo prato que vais saborear já esteja mais próximo do futuro do que imaginas?