PLANO DE TREINO
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Imagina isto: a tua maior inspiração de fitness, aquela pessoa que segues religiosamente para ter dicas de treino e nutrição só que ela não existe. Não é uma pessoa real, não come, não dorme, não transpira. Soa a ficção científica? Bem-vindo a 2025, onde os teus próximos ídolos podem ser apenas píxeis.
Hoje estamos a falar de influenciadores virtuais, avatares, influencers criados num computador que estão a aparecer nas redes sociais e a assinar contratos milionários com marcas gigantes.
Esta indústria que já movimenta milhões e está a mudar as regras do jogo.
Vamos desmontar este fenómeno, perceber porque é que as marcas estão a apostar milhões neles, conhecer os avatares que já mandam nisto tudo (incluindo uma estrela portuguesa!) e, o mais importante, descobrir se esta revolução digital está prestes a aterrar no teu ginásio.
Prepara-te, porque o futuro é mais estranho e fascinante do que imaginas.
Vamos pôr isto em pratos limpos. Um influenciador virtual é uma personagem digital, 100% fictícia, que vive e respira (metaforicamente, claro) nas redes sociais como se fosse de carne e osso. Eles têm uma personalidade, uma história, gostos, opiniões e até amigos e relações. A única diferença? São gerados por computador.
Por trás de cada avatar destes, não há uma pessoa, mas sim uma equipa inteira de criadores desde, designers, artistas 3D, programadores, guionistas e estrategas de marketing que controlam cada post, cada story, cada "opinião".
São eles que decidem se o avatar hoje vai "visitar" um museu em Paris ou "experimentar" o novo batido de proteína de uma marca.
E o mais incrível? Funciona. Um estudo recente revelou que mais de metade do público nos EUA (58%, para ser exato) já segue pelo menos um destes influencers.
Ou seja, há uma audiência gigante a interagir, a criar laços e a confiar em recomendações de pessoas que, tecnicamente, não existem, que são tão verdadeiras como a Lara Croft.
A linha entre o real e o virtual nunca foi tão fina.
Para perceber a dimensão disto, temos de conhecer os nomes que estão na linha da frente.
A Lil Miquela (@lilmiquela) é, sem dúvida, a rainha disto tudo. Criada em 2016, esta "jovem" de 19 anos, brasileira-americana, é um ícone de moda e música. Com mais de 2 milhões de seguidores, ela já fez campanhas para Prada, Chanel e Calvin Klein. Rumores dizem que ela gera cerca de 10 milhões de dólares por ano. Nada mau para quem não precisa de pagar renda.
Depois tens a Noonoouri (@noonoouri), uma avatar de 19 anos, criada em Munique, com um visual mais estilizado, quase de boneca. Ela é a queridinha do mundo da alta-costura, colaborando com Dior, Versace e Yves Saint Laurent. Mas não é só moda a Noonoouri uma ativista vegana, dando a ideia de que estes avatares podem ter "valores" e defender causas para se conectarem com o público.
E não podemos esquecer a Shudu Gram (@shudu.gram), que rebentou com a internet em 2017 e é considerada a "primeira supermodelo digital do mundo". A sua fama explodiu quando participou numa campanha para a Fenty Beauty, a marca de Rihanna.
Achas que a lista acabou? Não ela continua a crescer com nomes como a Lu do Magalu, um fenómeno brasileiro com mais de 7 milhões de seguidores, a modelo japonesa Imma ou a sul-coreana Rozy. Juntos, estes avatares somam dezenas de milhões de seguidores e provam que isto não é uma brincadeira mas sim um negócio multimilionário.
E se pensas que isto é uma realidade distante, pensa outra vez. Portugal já tem a sua própria estrela virtual. Chama-se Olívia C. (@oliviaislivinghigh).
Ela foi criada em 2024 pelo estúdio português Falamusa, a Olívia é apresentada como uma "viajante artificial num mundo real" e em pouco mais de um ano, já ultrapassou os 15 mil seguidores, partilhando fotos de paisagens, restaurantes e momentos de lifestyle.
Agora agarra-te a Olívia competiu no World AI Creator Awards, um concurso de beleza para criações de IA, e ficou em 3º lugar entre 1.500 candidatas. Esta vitória já lhe garantiu parcerias de peso, por exemplo, em 2025, tornou-se embaixadora da marca XPENG em Portugal e colaborou com a NOS durante o festival NOS Alive. É a prova "viva" de que o fenómeno não só chegou ao nosso país, como veio para ficar.
O que leva uma marca de carros a contratar uma "rapariga virtual" para promover um carro elétrico? A resposta é uma mistura inovação, controlo e uma pitada de genialidade de marketing. Os avatares oferecem vantagens que logicamente não são humanas.
Não é tudo um mar de rosas, algumas pessoas começão a fazer perguntas sérias.
Será que podemos confiar na recomendação de um produto feita por um código de computador programado para o fazer? Muitos consumidores sentem uma estranheza, uma rejeição a esta falta de experiência real.
Depois, e talvez mais preocupante, vêm os padrões de beleza inalcançáveis. Muitos destes avatares são a definição de perfeição irreal ou seja corpos esculpidos, pele sem poros, uma simetria facial impossível. Será que estamos a dar um passo atrás na luta pela diversidade e pela aceitação do corpo real?
Por fim, a transparência. Nem sempre é óbvio para todos que estão a interagir com uma personagem. Embora a maioria o diga na sua bio, muitos seguidores podem não se aperceber.
Acredita, esta onda não só vai chegar, como tem o potencial para mudar a forma como treinamos.
A Noonoouri já apareceu vestida de nike. O próximo passo é lógico e inevitável. Imagina o cenário:
Isto é tudo um ínicio, há pouco mais de um ano, ninguém usava inteligência artificial e ela está a evoluir a uma velocidade de TGV o que vai tornar estes avatares ainda mais realistas em todos os aspectos.
Com a evolução dos modelos como o ChatGpt, em breve poderás ter uma conversa normal com um influenciador virtual numa transmissão ao vivo. Ele vai responder às tuas perguntas, contar piadas e reagir aos teus comentários, tudo gerado em tempo real.
A integração com Realidade Aumentada vai ser outra revolução alguns telemóveis já permitem este tipo de coisas, imagina apontares a câmara para a sala e veres o PT virtual a mostrar-te como usar uma máquina, ali mesmo à tua frente.
E, finalmente, tens a hiper-segmentação, onde vais ter tudo para todos. Vamos ter avatares para todos os nichos e mais alguns. Desde a chef virtual que te ensina a fazer refeições no YouTube ou o monge virtual que faz meditações no Instagram, não há limites.
Os influenciadores virtuais vieram para ficar. Nós já vivemos num mundo muito digital e eles são o próximo pokemon nesta evolução.
A ideia que fica é que não devemos ter medo da tecnologia, mas compreendê-la.
O que sabemos é que um PT em carne e osso, de um ginásio como o Fitness UP, a energia brutal de uma aula de grupo, isso nunca vai ser substituído por um avatar.
Mas também é certo que estas novas ferramentas digitais podem e vão complementar a nossa experiência de fitness.
Por isso, a pergunta final não é se isto é certo ou errado. A pergunta é: e tu? Seguirias um PT virtual se ele te garantisse os melhores resultados da tua vida?
Vemo-nos do outro lado do ecrã.