PLANO DE TREINO
A CARREGAR...
Todos os anos, milhares de pessoas decidem que está na altura de mudar. Querem sentir-se melhor, com mais energia, mais saúde, mais autoestima. E rapidamente surge a grande questão: devo começar pela alimentação ou pelo exercício físico?
Esta dúvida não é apenas uma questão prática: reflete inseguranças, medos de falhar, e também a sobrecarga de informação contraditória que existe sobre o tema. Se de um lado ouves que “a alimentação é 80% dos resultados”, do outro garantem-te que “sem treino não há transformação”. O que é verdade, afinal?
Antes de mais, é importante perceber que não existe uma resposta única ou universal. Cada pessoa tem um objetivo, um ponto de partida, um contexto de vida, e até motivações diferentes. O que funciona para uma pessoa pode ser um desastre para outra. Mas isso não significa que mudar os teus hábitos seja um quebra-cabeças. Pelo contrário: perceber as vantagens e riscos de cada abordagem pode ajudar-te a tomar uma decisão consciente e, acima de tudo, sustentável a longo prazo.
Vivemos num tempo em que tudo parece urgente. Queremos resultados rápidos, mudanças visíveis, impacto imediato. E com isso, muitas vezes, tentamos mudar tudo de uma vez: passamos a comer “limpo”, sem espaço para aquele petisco que tanto gostamos;, inscrevemo-nos no ginásio e vamos todos os dias da semana; tentamos beber três litros de água por dia, dormir oito horas, meditar de manhã e cortar o açúcar — tudo ao mesmo tempo. O resultado? Exaustão e frustração.
A verdade é que o nosso cérebro resiste a mudanças muito bruscas. O mais eficaz não é transformar a tua vida da noite para o dia, mas sim criar um novo ritmo, com pequenas ações consistentes que se tornam hábitos. Pequenos hábitos, como adotar uma alimentação saudável ou iniciar a prática de exercício físico, têm tendência a ser mais eficazes do que as mudanças completas do estilo de vido. É por isso que esta questão (começar pela alimentação ou pelo treino) é tão importante. Porque o ponto de partida certo pode ditar se vais conseguir manter o teu compromisso contigo.
Começar pela alimentação saudável pode ser uma excelente escolha, especialmente para quem sente que precisa de recuperar energia, clareza mental ou melhorar problemas digestivos. É comum ouvir pessoas dizerem que, só por terem começado a comer melhor, já dormem melhor, sentem-se menos inchadas, e até têm mais paciência no dia a dia. Isto acontece porque a alimentação afeta o nosso humor, o nível de energia, a concentração: basicamente tudo.
Outro fator motivador é que muitas vezes, os primeiros resultados físicos aparecem mais depressa com mudanças na alimentação do que com o treino, especialmente se há um objetivo de perder peso. Isso pode ser um empurrão importante para manter a motivação nos primeiros tempos. O défice calórico é fundamental para a perda de peso, por isso, se esse é o teu objetivo, a alimentação é o primeiro factor de mudança.
Pequenas alterações alimentares, como reduzir o consumo de processados, aumentar os vegetais e beber mais água, têm impacto quase imediato. Experimenta começar a incluir fruta ao pequeno-almoço e legumes e/ou sopa às refeições principais. Leva uma garrafa de água sempre contigo e, a meio do dia, opta por snacks saudáveis e pouco calóricos, como alguns tipos de fruta, frutos secos (em quantidades controladas), laticínios magros e outras opções disponíveis no mercado.
No entanto, é preciso cuidado: alimentação saudável não é sinónimo de dieta restritiva. Cortar tudo de uma vez, seguir planos demasiado rigorosos ou modas passageiras pode causar mais mal do que bem. A longo prazo, o efeito ioiô (perder peso e voltar a ganhá-lo) é comum em dietas que não são ajustadas ao estilo de vida da pessoa.
Há quem só consiga entrar no ritmo quando começa a mexer o corpo. E está tudo certo. O exercício físico tem um impacto profundo na forma como nos sentimos, mesmo antes de vermos resultados no espelho. A cada sessão, o corpo liberta endorfinas, melhora o humor, aumenta a resistência e a força. O simples ato de transpirar pode transformar um dia difícil num dia mais leve. É como se sentisses o stress a passar pelos poros.
Além disso, criar uma rotina de exercício regular tende a influenciar outros hábitos de forma positiva. Quem treina com frequência começa, naturalmente, a querer comer melhor, não só para potenciar os resultados, mas porque o corpo começa a pedir alimentos mais nutritivos. O treino pode funcionar como um catalisador de mudanças.
O importante é que escolhas um tipo de exercício que te mantenha motivado: quer seja o treino muscular ou funcional em sala ou as aulas de grupo, escolhe aquilo que te dá mais prazer. Não sabes o que gostas mais? Experimenta até encontrares a atividade que te faz feliz.
Mas atenção: treinar sem suporte alimentar adequado pode comprometer os resultados, causar fadiga, perda de massa muscular e até lesões. O exercício físico é essencial, mas não faz milagres sozinho. É o casamento entre treino e nutrição que traz mudanças reais e sustentáveis.
Se estás a começar e sentes-te que não sabes para que lado te deves virar, considera isto: não precisas de escolher entre um e outro. A melhor abordagem pode ser começar com pequenas ações tanto na alimentação como no movimento. Em vez de pensar em dietas e planos intensivos de treino, pensa em:
Estas ações parecem pequenas, mas criam uma base sólida. São fáceis de manter, não geram resistência interna, e abrem caminho para hábitos maiores. A melhor parte: podes desafiar a família e amigos a acompanhar-te nesta mudança. Juntos, será mais fácil manter o compromisso.
A longo prazo, o mais eficaz é encontrares o teu ritmo: se te sentes mais motivado a mexer o corpo, começa por aí. Se preferes controlar melhor o que comes, ótimo. O importante é não cair na armadilha do “tudo ou nada”. A mudança real acontece no meio-termo. Mas, se há algo que faz a diferença no sucesso de qualquer transformação, é a rotina. Mais do que um plano perfeito, é a repetição diária (com ajustes, falhas, recomeços) que constrói resultados.
Criar uma rotina de exercício não tem de significar ir ao ginásio todos os dias. Pode ser:
O mesmo se aplica à alimentação saudável: preparar marmitas, ter snacks equilibrados por perto, aprender receitas simples que realmente gostas. Tudo isto reduz a tentação de voltar atrás. A rotina não deve ser uma prisão. Deve ser uma estrutura que te apoia e te liberta de decisões difíceis todos os dias.
Tentar fazer tudo sozinho pode ser desgastante e é absolutamente desnecessário. Hoje em dia, há cada vez mais recursos acessíveis para quem quer começar com o pé direito.
E o que fazer quando a motivação falha? Vai falhar. Isso é certo. Mesmo com o melhor plano, vais ter dias em que só queres pizza e sofá. Em que sentes que nada está a funcionar. Em que a balança não mexe, ou a roupa não serve. Nesses dias, lembra-te: o mais importante não é fazer tudo perfeito, é não desistir. É continuar, mesmo devagar. É perceber que um dia mau não anula semanas boas. Que o progresso real não se mede apenas com números, mas com a tua relação contigo.
Não existe uma fórmula mágica. Não há uma resposta definitiva para se deves começar pelo treino ou pela alimentação saudável. O melhor ponto de partida é aquele que te parece possível manter. E, ao longo do caminho, vais poder ajustar, corrigir, recomeçar quantas vezes for preciso. Escolher é apenas o primeiro passo.
Criar uma rotina de exercício e adotar uma alimentação saudável são decisões que se constroem com o tempo, com paciência e com atenção ao que realmente funciona para ti. O segredo está na consistência, não na perfeição. Mais do que seguir regras rígidas, trata-se de aprender a escutar o teu corpo, perceber o que te faz bem e encontrar uma forma de viver que te dê energia, prazer e bem-estar. Mudanças reais não se medem num mês, medem-se na leveza com que passas a viver o teu dia a dia. E isso começa agora, com um passo de cada vez.
Tu não precisas de mudar tudo de uma vez. Só precisas de começar.