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Viste que este artigo era sobre leis e ficaste logo assustado? Ou será que até chegaste aqui porque tens de fazer um trabalho sobre nutrição e precisas de inspiração? Qualquer que seja o teu caso, prometemos não te maçar muito com estas tais políticas alimentares inovadoras. A verdade é que o tema tem tudo o que um bom livro deve ter: um herói com uma missão, muitos obstáculos pelo caminho, intrigas, dúvidas, medo de não cumprir os objetivos... Spoiler alert: pois, muitos dos objetivos destas políticas alimentares inovadoras ainda estão mesmo por cumprir. Principalmente quando falamos na estratégia 'Farm to Fork'.
Curioso? Continua a ler e vê o que as leis Nutri-Score e 'Farm to Fork' estão a (ou querem) fazer por ti.
O Nutri-Score e a Estratégia 'Farm to Fork' são políticas alimentares inovadoras da União Europeia. Em teoria, pretendem ter um impacto direto na forma como produzimos e consumimos os alimentos. Na prática, têm enfrentado os protestos dos agricultores, o ceticismo dos consumidores e as críticas dos analistas.
Agora que já tens uma ideia geral sobre isto, vamos mais fundo? Bora lá! Vais sair daqui especialista em políticas alimentares inovadoras!
Sabias que mais de 50% dos portugueses têm excesso de peso ou são obesos? Recentemente, a obesidade tem começado a ser encarada como uma doença crónica e não como um mero resultado de más escolhas alimentares. Ainda assim, fazer escolhas mais saudáveis no supermercado deve ser um direito de todos, independentemente da sua condição ou origem.
É aqui que entra o Nutri-Score: uma das políticas alimentares inovadoras que mais salta à vista dos consumidores e que foi criada pela Santé Publique France (o equivalente ao nosso SNS, mas em França).
Em linhas simples, trata-se de um sistema que classifica a qualidade nutricional dos alimentos. Esta classificação surge no rótulo dos produtos, na zona que está virada para ti nas prateleiras do supermercado. Aí, podes ver as letras de A a E, cada uma com a sua cor.
As letras e cores do Nutri-Score identificam o maior ou menor grau de qualidade do produto. E fazem-no por ordem decrescente. A letra destacada significa que essa foi a classificação atribuída. Entende a hierarquia, da melhor para a pior escolha:
Vamos a um exemplo? É muito prático ver como funciona o Nutri-Score no caso dos óleos. A manteiga, o óleo de coco e o óleo de palma vão diretamente para o fundo da tabela, com um E bem vermelho. Já os óleos de noz e de colza, bem como o azeite, conquistam um mais simpático C. Conclusão: o Nutri-Score é o teu melhor amigo quando precisas de comparar produtos dentro de uma mesma categoria.
O Nutri-Score veio mesmo simplificar a tua vida. Olhas e é logo intuitivo: quando vês um produto com letra A sobre fundo verde, ao lado de outro com a letra D sobre fundo laranja, entendes facilmente qual deles será a escolha mais acertada. Ou melhor, mais nutritiva! Ainda assim, é interessante entenderes a mecânica que leva a essa classificação. Afinal de contas, as políticas alimentares inovadoras têm muito que se lhe diga!
Em primeiro lugar, fica a saber que existe uma escala pré-determinada. Depois, tal como num jogo de computador em que sais penalizado por apanhar cogumelos venenosos, há aspetos que dão pontos positivos e outros que dão pontos negativos.
A diferença entre os dois grupos de pontos é então convertida na letra que fica em destaque no rótulo.
Sim, o Nutri-Score ajuda-te a comparar alimentos. Sim, é simples. E, sim, a Agência Internacional para a Investigação do Cancro até já veio dizer que o Nutri-Score é uma das políticas alimentares inovadoras que é realmente eficaz a orientar os consumidores. Contudo... o sistema é acusado de ser demasiado simplista.
Imagina que estás perante duas barras de cereais, exatamente com a mesma letra. A razão? Ambas têm percentagens significativas de bons nutrientes, como a proteína. Mas uma dessas barras tem mais açúcar do que a outra, o que não está refletido na letrinha que te chamou a atenção.
Para desempatar, o melhor mesmo é consultares a tabela nutricional dos ingredientes. Verifica, principalmente, os fatores que garantem pontos negativos, ou seja, o sal, as gorduras saturadas, as calorias e os açúcares.
Por último, regista esta regra: o Nutri-Score não serve para te dizer o que podes ou não comer. Apenas te diz que os alimentos nutricionalmente mais ricos podem ser consumidos com maior frequência. Quanto aos outros, é melhor ires evitando. Mas, se fossem proibidos, não estariam à venda no supermercado.
A estratégia 'Farm to Fork' ou 'Do Prado ao Prato' nasceu em pleno COVID-19. Em maio de 2020, a Comissão Europeia alertava para a necessidade de termos um sistema alimentar robusto, capaz de enfrentar grandes desafios como - lá está - uma pandemia. O objetivo? Garantir que todos os consumidores europeus conseguem aceder aos alimentos de que precisam e a preços que podem pagar.
E como é que a União Europeia garante isto mesmo? A lógica seguida é simples: acredita-se que a produção alimentar só é resistente se for sustentável.
Por isso, a estratégia 'Farm to Fork' entrou no pacote do Pacto Ecológico Europeu: uma série de medidas sobre o clima, os transportes e a energia que quer fazer da Europa o primeiro continente europeu com impacto ambiental neutro.
Só um pouquinho ambicioso, não é? Mas vamos lá ao cliché: juntos, somos mais fortes. E, com as estratégias certas, ficamos mais perto de proteger o nosso planeta como ele merece.
Alimentos mais saudáveis e produção mais amiga do ambiente. Num contexto em que a sobre-exploração agrícola é uma preocupação global, estes são os dois principais objetivos da estratégia 'Farm to Fork'. Esta missão transforma-a, sem dúvida, numa das políticas alimentares inovadoras mais importantes dos nossos tempos. Mas não se fica por aqui. A 'Farm to Fork' quer:
Vamos a dados mais concretos? Políticas alimentares inovadoras, que queiram ser dignas desse nome, têm de apresentar números! Até 2030, os objetivos específicos são:
E como é que isto se faz? Com investimento financeiro, claro. Sobretudo, canalizando-o para ações de educação e sensibilização, que mostrem aos agricultores os novos métodos de trabalho. Sem esquecer de lhes provar que esses métodos não afetam a margem de lucro.
Uma das grandes bandeiras da 'Farm to Fork' era diminuir para metade o uso de pesticidas químicos e outros igualmente perigosos. A lei proibia o seu uso nos espaços verdes das cidades e em áreas de conservação ambiental. Ora, os agricultores não ficaram nada contentes e saíram à rua. Em 2024, a pressão já era tanta que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, deixou cair a proposta. Contudo, esta não é a única pedra num caminho bem sinuoso:
Contas feitas, a resistência é muita e, em 2024, mais de metade das ações ainda estavam por cumprir. Em contrapartida, esta iniciativa e ambição ecológica são de louvar. Cada vez que a legislação avança um pouco, ficamos mais próximos de um estilo de vida europeu mais saudável.
De um lado, temos o Nutri-Score a informar o consumidor e a pressionar a indústria. O processo ainda não está, no entanto, no seu ponto perfeito. A classificação tem sofrido algumas alterações para que o sistema seja cada vez mais justo. Por exemplo, uma das últimas mudanças inclui calibrar a pontuação, de forma a distinguir entre carnes vermelhas e carnes de aves.
Do outro lado, a 'Farm to Fork' parece não estar a saber lidar com o seu gigante - mas louvável - apetite de mudança. Os desafios são muitos, mas os benefícios a longo prazo serão ainda maiores.
Assim, deixamos-te com uma nota otimista: as políticas alimentares inovadoras da União Europeia podem servir de modelo para os outros continentes. Basta provarmos que vivemos mais e melhor, graças a escolhas mais conscientes e sustentáveis.
Vamos a isso? O prato da mudança já está servido e tu tens lugar à mesa.
Artigo escrito por Maria Luísa Franco - Nutricionista do Fitness UP, formada pela Faculdade de Ciências da Nutrição e da Alimentação da Universidade do Porto, especialista em Nutrição Desportiva e com mais de 10 anos de experiência na área.